terça-feira, 16 de outubro de 2007

Simplesmente contagiante

De manhã, bem cedo, tentei arranjar lugar para o carro no Chile, mesmo perto da praça de Arroios.
A minha consulta estava marcada para dai a meia hora.
Depois de estacionar num lugar apertado gentilmente indicado por um dos “arrumadores de carros”, recostei-me no assento e levantei o som do rádio.

Ouvi, vindo da rua, a palavra obrigado, por diversas vezes. Chamou-me à atenção tanto mais que estava numa rua ainda meio adormecida. A personagem principal desta manhã era o tal senhor oriundo de países de Leste que tão agilmente organizava o estacionamento. Com uma boa disposição incansável, saltava frenético de um lado para o outro, gritando obrigado por tudo e por nada, numa alegria completamente contagiante. Cada obrigado era servido com uma vénia majestosa. Era um indivíduo na casa dos 50, com o rosto marcado pela vida. Magro e de cabelos grisalhos. Não velho, mas sim cansado. Contudo sempre com um brilho no olhar e um sorriso amistoso.

Nas minhas voltas nocturnas dos sem abrigo aprendi que na grande maioria das vezes estes homens gastam o dinheiro que ganham no álcool, contudo este homem alegre seria uma excepção à regra. Ainda tive tempo de o ver sair do mini preço com um saco de pão, algo envolvido em papel, provavelmente para acompanhar o pão, e dois pacotes de leite.
Deleitou-se então, ali mesmo, sentado na soleira de uma porta a tomar o seu pequeno-almoço tão merecido. Sempre que um sorriso enorme, sempre com uma simples alegria e evidente.

Foi um doce pela manhã.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Cheiros que avivam a memória.


O tempo mudou desde a última vez que vim à terra e passaram apenas três semanas.
A noite está mais húmida.
Os cheiros são tão característicos da época.
O frio chega de mansinho e já se entranha na pele.
O cheiro da lenha queimada nas lareiras esquecidas no verão…doce fragrância.
O meu casaco está colado em mim como uma segunda pele.
Sabe bem o agasalho.
Com a noite cai o orvalho humedecendo a terra agora macia, tenra.
As folhas, os troncos das árvores e o manto verde que cobre os campos emanam um bálsamo doce…tão doce.
Vejo à minha volta uma paleta de tons castanhos.
Por momentos lembrei-me do que há muito me tinha esquecido.